domingo, 13 de setembro de 2009

A invisibilidade da não-docência

As atividades dos professores, integrantes de um corpo docente de uma instituição de Ensino Superior Privado, podem ser significativas socialmente ou não. Depende da relação entre a instituição e o meio onde ela está inserida; e ainda da responsabilidade social da instituição com a Educação. A relação entre a instituição e os seus docentes precisa ser sadia em todos os sentidos, para que a Educação não seja transformada em desculpa para manter um sistema de redistribuição de renda dos estudantes para a administração de uma empresa que se declara educacional.

Sem incentivo para a pesquisa e a produção científica, sem participar de eventos pedagógicos e científicos, sem utilizar bibliografias atualizadas, sem participar de grupos de pesquisas e sem o diálogo com os coordenadores gerais e específicos, os professores das instituições privadas tornam-se apenas repetidores dos conteúdos de livros antigos. Muitos acreditam que exercem a docência universitária; neste caso há uma invisibilidade da não-docência. Esses professores não provocam a criticidade e nem a reflexividade dos alunos, porque não aprendem em comunhão, como deixou escrito Paulo Freire.

A dialética do letramento na Amazônia

A pessoa corre da vida tão veloz e cretina, mas não percebe a sua lida, lavada e enxaguada na tina. Cada dia recomeçar, cara lavada ao sol, não há como parar. E nem mesmo o girassol amarelo, redundante no seu movimento, sabe indicar o rumo. Há muito para se ver e pouco para se contar. Nem sempre é bom saber quando nada vai mudar, porque escrever e ler são poderes capazes de descortinar o impossível, mas a mudança é risível.

Nasceu índio a pessoa, quase escravo se tornou, e continua desconhecida. Quem conta a história é o vencedor. E a pessoa gritou: - aquece-me a pele uma companhia singular, um beijo daquele que gele e foge sem explicar, porque roubaram a dialética de um calor bem natural. A escrita é assim eclética, mas a sua origem é oral; do mesmo modo que o rural gerou a cidade, a escrita vem da oralidade.

Nunca houve confusão, falta mesmo é policiamento, pois alfabetização nunca foi letramento; este é processo sócio-histórico, interação com o social, compreensão e utilização dos bens sociais inseridos numa sociedade de cultura escrita. E nem sempre o alfabetizado possui tanto letramento.

O estrangeiro quis alfabetizar e até hoje não conseguiu, encontrou a oralidade do índio, cuja aprendizagem desprezou, queria mesmo alfabetizar para ser obedecido e a pessoa que nasceu índio disse ´não´ do seu jeito, não transmitiu conhecimento porque percebeu desinteresse na cultura milenar.

O letramento só pode ser discutido no contexto de uma sociedade de cultura escrita; quando o estrangeiro chegou à Amazônia não havia analfabetos, pois não existia cultura escrita, a oralidade estava presente; também não é o caso de raciocinar com letramento naquele contexto. Essa visão não estava clara na época, até porque a palavra letramento não constituía uma categoria de análise, como ocorre nos dias atuais na área da Educação.

Segundo Moll, “toda prática educativa é expressão de uma teoria do conhecimento, quer ela seja consciente ou não por parte do educador”. Se os estrangeiros soubessem disso quando chegaram à Amazônia, teriam percebido que as práticas educativas dos indígenas estavam fundamentadas em algumas teorias do conhecimento, pois sendo povos de culturas milenares, onde os mais velhos ensinavam aos mais novos os seus saberes, não poderiam os estrangeiros tentar fazer sucumbir tais culturas para implantar o ensino da Língua Portuguesa, com o seu alfabeto e a sua escrita.

A pessoa corre da vida tão veloz, mas o seu nível atual de letramento permite viver na Manaus dos Barés, Tarumãs e Manaós, crescente nos igarapés, periferia e igapós. Cidade cabocla, mulher iara, ilusão dos imigrantes, mas não engana o manauara; os iludidos serão retirantes.

A pessoa nasceu índio e hoje vive em Manaus, sonha com o seu perfume, de amante também voraz, jamais sentirá ciúme dos seus instintos animais. E assim, ela ama a terra de Ajuricaba, sem sofrer com o calor próximo ao Equador, porque Manaus sempre será o seu grande e único amor.

A canoa do tempo

A canoa do tempo navega entre gerações, construindo e desconstruindo valores, historicizando a cultura de um povo. A canoa do tempo é a Língua falada por uma sociedade, tenha esta apenas a cultura oral ou a cultura escrita.

Quanto mais leio os textos de José Ribamar Bessa Freire, mais aprendo sobre a cultura amazônica. A leitura do livro “Rio Babel: a história das línguas na Amazônia” ajuda a compreender a importância da preservação do uso das línguas indígenas na Amazônia.

A oficialização do uso da Língua Geral da Amazônia, ou nheengatu, em 2003, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Estado do Amazonas, é um passo importante no caminho do reconhecimento da importância da cultura dos povos tradicionais da Amazônia.

Dessa forma, como escreveu Bessa Freire, “o nheengatu é, assim, a primeira língua indígena a se tornar oficial numa unidade do território brasileiro, juntamente com o tukano e o baniwa, contemplados pela mesma lei”.

A redação em português e em nheengatu é obrigatória nos documentos dos órgãos públicos de São Gabriel. A canoa se revitaliza.

A Aprendizagem na Academia

Os cursos de formação de professores dos ensinos fundamental e médio são ricos em teorias e práticas de ensino que desenvolvem, acompanham e avaliam a aprendizagem de crianças e jovens nas escolas e nos colégios. Mas quando o público acadêmico é constituído de adultos no Ensino Superior, principalmente quando estes estudam no turno noturno, nem sempre os professores têm formação para incentivar a aprendizagem dos alunos.

Inicialmente, o Plano de Desenvolvimento Institucional da instituição de nível superior deve valorizar e criar as condições didático-pedagógicas voltadas para a aprendizagem de professores e alunos. Na prática, esse plano deve ser construído por equipe multidisciplinar, a qual se predispõe a assessorar os professores em um segundo momento, na ocasião da realização do planejamento das atividades das suas disciplinas.

Uma vez atendidas as necessidades institucionais e funcionais, professores e alunos se encontram em sala de aula e em outros locais para conhecerem melhor os temas, as rotinas e as possibilidades de compreensão dos assuntos estudados, para aprender. O trabalho dos professores nesse processo é resultado da riqueza cultural desses profissionais, adquirida através de experiências pessoais e acadêmicas; servirá para criar estratégias de ensino-aprendizagem em atendimento à missão e à visão institucional. As estratégias têm início no uso de vocabulário adequado aos temas de estudo e na valorização dos conhecimentos anteriores dos alunos.
Para que a aprendizagem na academia ocorra dinâmica e objetivamente, os temas de estudo devem ser apresentados de forma a seduzir os alunos, além de certa dose de entretenimento durante as aulas; mostrar utilidade, relações e contextualização com aspectos da vida real. Alunos adultos se interessam por aquilo que indique utilidade, que gere resultados na vida presente e futura; quando os conteúdos das aulas mostram-se potencialmente úteis, os alunos valorizam os conhecimentos, cujo resultado é a aprendizagem.

Os professores devem ultrapassar os limites do conteúdo das bibliografias; as aulas devem ser contextualizadas com informações do dia-a-dia veiculadas nas ruas, nos jornais, nos tablóides, nas emissoras de rádio e televisão; nas revistas, na Internet, nos órgãos de pesquisas, nas entrevistas de especialistas e nas discussões que alunos e professores se dispuserem a construir. Ou seja, as aulas devem seduzir os alunos, ocupar-lhes os pensamentos; seus conhecimentos utilizados e reutilizados nas suas práticas diárias. Assim, a apreensão das informações cria os conhecimentos construtores da aprendizagem na academia. Para construir tal processo, há necessidade de mudanças de racionalidade na pedagogia universitária; em lugar de uma racionalidade técnico/instrumental precisa-se construir uma racionalidade prático/reflexiva; isto levará alguns anos.

Estas informações podem parecer enfadonhas; no entanto, ao conversar com alunos de alguns cursos superiores no Brasil, verifica-se o nível de insatisfação com a aprendizagem. Ainda existe professor que acredita na aprendizagem dos alunos apenas em decorrência das suas duas ou três aulas semanais; como se o aluno fosse um recipiente e o professor o detentor do conhecimento a ser distribuído em porções. Embora essa constatação pareça absurda ou filosófica, continua sendo uma prática ainda utilizada em algumas salas de aulas da academia.

Ao discorrer sobre a necessidade de ciência e estratégias para a apresentação dos temas de estudo durante as aulas, ainda na atualidade, há uma tendência para considerar tal discurso como desnecessário e inócuo; opiniões e achismos são mais comuns. Na prática, há professores que não pesquisam, não escrevem e não prestam atenção aos resultados das pesquisas na área da Educação. E assim, reproduzem os conteúdos dos livros e não desenvolvem juntamente com os alunos a criticidade de consciência e a reflexão sobre os estudos, por isso as avaliações pontuais representam indicadores de aprovação ou reprovação de alunos; embora estas sejam deficientes na verificação da aprendizagem construída, a qual se revela na vida pessoal e profissional dos acadêmicos e egressos da academia, já no mercado de trabalho.

Então, o planejamento e a execução das aulas devem estar de acordo com a filosofia do plano de desenvolvimento institucional e com o previsto no projeto pedagógico do curso, mas com ciência e pesquisa. Dessa forma, a aprendizagem na academia torna-se realidade e o desenvolvimento socioeconômico será construído com trabalho.